quarta-feira, 22 de agosto de 2007

E não chegou a ser mandada.

Passarinho,

escrevo-te essa carta como o amigo que uma vez já fui.
Esse amigo que eu já fui, passarinho, se perdeu na bagunça que fizemos a quatro anos. Trancamos esse amigo numa sala e o deixamos lá. E quando abrimos a porta, lá estava ele, morto, sem vida, esquecido, jogado.
E não foi só ele. Foram muitos que morreram. Mas justo esse, esse amigo, passarinho... esse amigo era pra tar vivo, cheio de vida, olhando pra gente ali do canto da sala, enquanto você passava um café.
Café esse que agora me parece amargo, fraco, aguado.

- amargo, fraco, aguado

E aí passarinho. Que fazemos agora? Olhamos para o corpo do amigo esparramado no chão, imóvel, sem vida... ou o enterramos fundo em nossas memórias, onde não podemos mais lembrar quem foi esse amigo... esse amigo morto, enterrado.
E ainda temos mais uma opção. Deixamos esse amigo no quarto em que morreu, trancado, afogamos nossa memórias no bom e velho álcool - num vinho barato ou coisa que o valha - e aí então poderemos acreditar que podemos criar um novo amigo, e criaremos!
E ele vai se tornar real um dia. Seja o efeito do álcool ou seja o efeito de algo maior - não sei o quê, algo maior.
E dessa vez, cuidamos desse amigo para que ele não se perca, e seja enterrado quando nós já não habitarmos mais esse plano - esse mundo, essa vida.

E aí afogamos a tristeza e os pêsames pelo nosso velho amigo, e brindamos a chegada de um novo, um cheio de vida, um amigo!
Que acha, passarinho? Prefere ir ao enterro, ir ao bar, ou ficar olhando alguns bons anos para um corpo, uma carcaça jogada aos corvos?
- ou agora vais me dizer que és um corvo, passarinho?

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